sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Fim de Ciclo

Finalizamos na semana passada (dia 04.12) o ciclo de um ano de estudo.

Desejo a todos que nos acompanharam virtual ou presencialmente que tenham um ótimo fim de ano, em todos os aspectos possíveis e inimagináveis. Que o final seja propício e nos capacite a fertilizar novos terrenos para grandes acontecimentos, nos níveis internos, externos e profundos!

Muita paz!
Shāntiḥ!!!


Temas que estudamos durante o ano de 2009


Yogasūtra de Patanjali
O Corpo no haṭhayoga
Sāṁkhya


Śivasūtra e práticas tântricas
15 - Cosmologia tântrica (36 tattvas) - 04.09.2009
16 - O caminho do supremo (śāmbhavopāya) - 11.09.2009
17 - O caminho da potência (śāktopāya) - 18.09.2009
18 - O caminho do indivíduo (āṇavopāya) - 25.09.2009

Meditação śivaíta
19 - Integração do denso, sutil e transcendente - 16.10.2009
20 - A meditação natural e ininterrupta (haṁsaḥ) - 23.10.2009
21 - Integração do corpo ao mundo (dvadaśānta) - 30.10.2009
22 - Meditação triádica (candra-sūrya-agni) - 06.11.2009
23 - Purificação das nāḍīs (nāḍī-śodhana) - 13.11.2009
24 - Identificação do objetivo com o subjetivo (Śāmbhavī-mudrā) - 27.11.2009
25 - Meditação sobre o cosmograma (Śrī-yantra) - 04.12.2009

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Encontro de 23 de outubro: a meditação natural e ininterrupta

O texto base para a prática desta semana é o Shiva-sūtra, 3.27, que trata da descrição da consciência do yogue. Algumas sugestões são dadas com o intuito de proporcionar o estado de presença e de atenção. Dentre elas, a sincronização da atividade respiratória com o pulsar do universo. Faz-se tal ato por meio da percepção do mantra que é entoado espontaneamente a cada instante em que a vida se manifesta: o mantra Haṁsaḥ.

O material de apoio, com as traduções, pode ser visto em:

http://www.om.pro.br/grupodeestudos/estudosdeyoga-23102009.pdf

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Encontro de 16 de outubro de 2009 - A integração do denso, sutil e transcendente

O atual ciclo de estudos percorre algumas das práticas meditativas sugeridas pela tradição tântrica do Shivaísmo da Caxemira.

Realizamos duas práticas baseadas no reconhecimento de que estamos situados simultaneamente nos níveis denso, sutil e transcendente. O sūtra 4 do Shiva-sūtra, com o comentário de Kṣemarāja, foi a base de nosso estudo e prática meditativa.

O material de apoio, com as traduções, pode ser visto em:

http://www.om.pro.br/grupodeestudos/estudosdeyoga-16102009.pdf

sábado, 10 de outubro de 2009

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

O relato da revelação dos Sutras de Śiva

Sobre a origem do Śiva-sūtra, consta o seguinte relato na introdução da Spanda-kārikā:
 
Eis que aqui, neste mundo, o excelso preceptor Vasugupta, a quem a grandiosidade [divina] foi revelada por meio da união com o super-supremo Śiva, que visa a instrução de todos, recebeu uma orientação da vontade do Venerável, durante um sonho, vinda da montanha do grande deus e encontrou os sūtras de Śiva, mais do que secretos, grafados sobre o grande monte. Ele reuniu e apresentou os cinquenta e um versos sob uma unidade que demonstra uma experiência direta dos āgamas, com profundidade e com clareza.

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iha hi viśvānujighṛkṣāparaparamaśivāveśonmīlitamahimā śrīmānvasuguptācaryo mahādevaparvatād bhagavadicchayaiva svapnopalabdhopadeśaḥ mahāśilātalollikhitāny atirahasyāni śivasūtrāṇy āsādya prasannagambhīrair ekapañcāśatā ślokair āgamānubhavopapattyaikīkāraṁ pradarśayan saṁgṛhītavān |

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Encontro do dia 28 de agosto de 2009 (guṇa e ahaṁkāra)

Uma teoria do conhecimento tem a finalidade de produzir um método de observação de nossa própria capacidade de observação. Discute-se quais são os limites possíveis do conhecimento humano. A consciência limitada pela individualidade teria capacidade para conceber o absoluto? A filosofia do sāṁkhya propõe um caminho metódico para que se organize todas as formas pelas quais a totalidade da existência se manifesta. Nessa forma de agrupamento, as realidades do sujeito que apreende e a realidade dos objetos que são apreendidos são entendidas como manifestações simétricas, como formas espelhadas que foram desencadeadas por um mesmo processo. Enquanto teoria do conhecimento, o sāṁkhya entende que a mente - o aparelho cognitivo convencional - é incapaz de apreender integralmente a dinâmica da existência do cosmo do qual faz parte, pois compartilha da mesma substância - ainda que em intensidade diferente - dos elementos pertencentes ao que chamamos de mundo material (nesse sentido, é que surge o pressuposto do yoga de que é necessário desvencilhar-se da mente ordinária para que algo a mais se manifeste). Vejamos, na passagem a seguir, uma descrição das três categorias (guṇa) que modulam cada uma das formas que permitem que as individualidades subjetivas se relacionem com as formas objetivas.
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O Ensinamento de Kapila  (Kapilopadeśa 2.24-31)
A partir do elemento mahat, originado no vigor do Venerável, o ahaṁkāra – como uma potência de ação (kriyāśakti) – desdobrou-se triplamente: como vaikārika (mutável), como taijasa (ardente) e como tāmasa (obscuro), que são origem do manas (mente), dos indriya (comandos/sentidos) e dos mahābhūta (elementos grandes). Ele é conhecido como Saṁkarṣaṇa, ou puruṣa composto pela mente, sentidos e elementos, considerado o infinito (ananta), que é presenciado com mil cabeças. A qualificação do ahaṁkṛti é a agência (kartṛtva), a instrumentalidade (karaṇatva) e a objetividade (kāryatva), ou as qualidades de ser pacífico (śānta), terrível (ghora) e insensível (vimūḍha). Do vaikārika, quando este se desdobra, o elemento manas foi gerado, do qual se origina o estado de desejo, a partir do vikalpa (concepção fragmentária) e do saṁkalpa (concepção integral). Ele [manas] é conhecido como Aniruddha (indomável) e, lembrando um lótus escuro outonal, é pouco-a-pouco apaziguado pelos yogues. Do taijasa, quando este se desdobra, o elemento buddhi surgiu, como um reconhecimento para aparição das coisas, isto é, uma ajuda para os sentidos, ó virtuosa! “A dúvida, o engano, a convicção, a memória, o sono” são considerados como qualificação da buddhi, de acordo com suas funções. Os sentidos taijasa são distribuídos como ação (kriya) e concepção (jñāna), a potência da ação é a do prāṇa e a potência do reconhecimento é a da buddhi.

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vaikārikas taijasaś ca tāmasaś ca yato bhavaḥ |

manasaś cendriyāṇāṃ ca bhūtānāṃ mahatām api ||24|
sahasraśirasaṃ sākṣād yam anantaṃ pracakṣate |
saṅkarṣaṇākhyaṃ puruṣaṃ bhūtendriyamanomayam ||25||
kartṛtvaṃ karaṇatvaṃ ca kāryatvaṃ ceti lakṣaṇam |
śāntaghoravimūḍhatvam iti vā syād ahaṅkṛteḥ ||26||
vaikārikād vikurvāṇān manastattvam ajāyata |
yatsaṅkalpavikalpābhyāṃ vartate kāmasambhavaḥ ||27||
yad vidur hy aniruddhākhyaṃ hṛṣīkāṇām adhīśvaram |
śāradendīvaraśyāmaṃ saṃrādhyaṃ yogibhiḥ śanaiḥ ||28||
taijasāt tu vikurvāṇād buddhitattvam abhūt sati |
dravyasphuraṇavijñānam indriyāṇām anugrahaḥ ||29||
saṃśayo 'tha viparyāso niścayaḥ smṛtir eva ca |
svāpa ity ucyate buddher lakṣaṇaṃ vṛttitaḥ pṛthak ||30||
taijasānīndriyāṇy eva kriyājñānavibhāgaśaḥ |
prāṇasya hi kriyāśaktir buddher vijñānaśaktitā ||31||

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Encontro do dia 14 de agosto de 2009 (prakṛti, kāla)

Continuando o Ensinamento de Kapila, o trecho seguinte expõe a cosmologia do ponto de vista da Prakṛti.

Obs.: nessa descrição, o tempo ocupará um papel especial no questionamento acerca da existência humana. Será ele uma cirscunstância da materialidade ou será o tempo um atributo da consciência? O ensinamento de Kapila expõe que existem aqueles que dizem que o tempo é um desdobramento da materialidade e há aqueles que o concebem como a potência do divino que é responsável pelo processo que deu início a toda a criação do cosmo. A afirmação conclusiva é que o tempo é a expressão do divino nas criaturas: o divino manifesta-se internamente como consciência e externamente como o tempo. Entenda-se aí o tempo como aquele que promove a mutabilidade das formas, a transformação, o nascimento, a morte, o nascimento, a transformação, etc.

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Kapilopadeśaḥ (2.9-14)
devahūtir uvāca | prakṛter puruṣasyāpi lakṣaṇaṁ puruṣottama | brūhi kāraṇayor asya sadasac ca yadātmakam ||9|| 
śrībhagavān uvāca | yattriguṇam avyaktaṁ nityaṁ sadasad ātmakam | pradhānaṁ prakṛtiṁ prāhur aviśeṣaṁ viśeṣavat ||10|| pañcabhiḥ pañcabhiḥ brahma caturbhir daśabhis tathā | etac caturviṁśatikaṁ gaṇaṁ prādhānikaṁ viduḥ ||11|| mahābhūtāni pañcaiva bhūr āpo ‘gnir marun nabhaḥ | tanmātrāṇi ca tāvanti gandhādīni matāni me ||12|| indriyāṇi daśa śrotraṁ tvakdṛgrasanāsikāḥ | vāk karau caraṇau meḍhraṁ pāyur daśama ucyate ||13|| mano buddhir ahaṁkāraś cittam ity antarātmakam | caturdhā lakṣyate bhedo vṛttyā lakṣaṇarūpayā ||14||  etāvān eva saṁkhyāto brahmaṇaḥ saguṇasya ha | saṁniveśo mayā prokto yaḥ kālaḥ pañcaviṁśakaḥ ||15|| prabhāvaṁ pauruṣaṁ prāhuḥ kālam eke yato bhayam | ahaṁkāravimuḍhasya kartuḥ prakṛtim īyuṣaḥ ||16|| prakṛter guṇasāmyasya nirviśeṣasya mānavi | ceṣṭā yataḥ sa bhagavān kāla ity upalakṣitaḥ ||17|| antaḥ puruṣarūpeṇa kālarūpeṇa yo bahiḥ | samanvetyeṣa sattvānāṁ bhagavān ātmamāyayā ||18||
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O Ensinamento de Kapila

Devahūti disse:
Ó, Grande Ser (puruṣottama), fale sobre a constituição da prakṛti e também do puruṣa, sobre sua causa, sobre fenômeno, não-fenômeno e essência. 
O Venerável disse:
A tríade gunádica (triguṇa) imanifesta, eterna, é fenômeno, não-fenômeno e essência, considerada como pradhāna. A prakṛti é a não diferenciação como que diferenciada. Considera-se o pradhāna, ou brahman, como um conjunto de vinte e quatro partes, composto com cinco, cinco, quatro e dez. Os mahābhūta são cinco, terra, água, fogo, ar e éter. Os tanmātra têm igual número, concebidos por mim como aroma, etc. (rasa, rūpa, tvac, śabda). Os indriya são dez: audição, tato, visão, paladar, olfato, voz, mãos, pés, pênis e ânus. Mente, intelecto, individualidade e consciência (manas, buddhi, ahaṁkāra e citta) são o antarātman, cuja divisão em quatro é percebida como forma de descrição de suas funções.  Esse é o cômputo de brahman com atributos (saguṇa). Eu considero o tempo (kāla) como o vigésimo quinto aspecto. Alguns consideram o tempo (kāla) como um poder relacionado ao puruṣa, de onde provém o medo dos agentes iludidos pela individualidade e identificados com a prakṛti. O tempo (kāla) é descrito como o Venerável, do qual provém a ação sobre o equilíbrio dos atributos (guṇa) da prakṛti não diferenciada, ó humana. O Venerável, pela potência construtiva (māyā) de si próprio, é aquele que se conecta ao interior de todos os seres sob a forma do puruña e ao exterior, sob a forma do tempo (kāla).

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Encontro do dia 31 de julho de 2009 (puruṣa e prakṛti)

O texto a seguir é uma descrição recente do sistema de conhecimento (darśana) conhecido como Sāṁkhya. Trata-se de um texto nomeado como Kapila-upadeśa, ou "Ensinamento de Kapila", que é a quem se atribui a fundação dessa escola filosófica, que teve início antes da Era Cristã. Essa obra consiste de 9 capítulos que foram transmitidos junto à coletânea purânica conhecida como Bhāgavata, datada de cerca de XII d.C. 

Segundo a concepção desse tratado, que não é a visão "clássica" do Sāṁkhya, puruṣa, que é entendido como a consciência divina, aproxima-se ludicamente da prakṛti e perde a consciência de sua própria natureza. O conjunto das observações cosmológicas presentes nesse tratado pressupõem um rico universo simbólico e mitológico que nos induzem a interessantes reflexões acerca dos metas propostas pelas várias tradições do yoga e das práticas por elas envolvidas.

Do ponto de vista da relação entre as escolas filosóficas, é interessante notar também que as concepções do Sāṁkhya presentes nessa obra trazem alguma influência do tantrismo. No tantrismo, os elementos, ou "tattvas", são computados como 36 ao todo, enquanto que, no Sāṁkhya, eles somam 25. Mais do que uma divergência numérica, as diferenças estão situadas no valor, positivo ou negativo, dado aos tattvas. Enquanto que, no Sāṁkhya antigo, os tattvas identificados com a prakṛti são entendidos como alheios ao divino, no tantrismo, esses mesmos tattvas, identificados com a śakti, constituem uma manifestação do divino. Na visão do Kapilopadeśa, por vezes, os tattvas são entendidos de uma forma e, por vezes, de outra forma. Eis o início do segundo capítulo dessa obra:

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Kapilopadeśa
atha te sampravakṣyāmi tattvānāṁ lakṣaṇaṁ pṛthak | yad viditvā vimucyeta puruṣaḥ prākṛtair guṇaiḥ ||1|| jñānaṁ niḥśreyasārthāya puruṣasyātmadarśanam | yad āhur varṇaye tat te hṛdayagranthibhedanam ||2|| anādir ātmā puruṣo nirguṇa prakṛteḥ paraḥ | pratyagdhāmā svayaṁ jyotir viśvaṁ yena samanvitam ||3|| sa eṣa prakṛtiṁ sūkṣmāṁ daivīṁ guṇamayīṁ vibhuḥ | yadṛchayaivopagatām abhyapadyata līlayā ||4|| guṇair vicitrāḥ sṛjatīṁ sarūpāḥ prakṛtiṁ prajāḥ | vilokya mumuhe sadyaḥ sa iha jṇānagūhayā ||5|| evaṁ parābhidhyānena kartṛtvaṁ prakṛteḥ pumān | karmasu kriyamāṇeṣu guṇair ātmani manyate ||6|| tad asya saṁsṛtir bandhaḥ pāratantryaṁ ca tatkṛtam | bhavaty akartur īśasya sākṣiṇo nirvṛtātmanaḥ ||7|| kāryakāraṇakartṛtve kāraṇaṁ prakṛtiṁ viduḥ | bhoktṛtve sukhaduḥkhānāṁ puruṣaṁ prakṛteḥ param ||8||

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O Ensinamento de Kapila


Agora, descreverei para ti a conformação dos elementos (tattva) em detalhes. O ser (puruṣa), ao reconhecer isso, há de libertar-se. Explicarei para ti o conhecimento que dizem que rompe os nós do coração, que revela a essência (ātman) do ser (puruṣa) e que conduz ao supremo. A essência incriada é o ser, livre de qualidades (guṇa) e superior à materialidade (prakṛti). O mundo todo é conduzido por ele, que está dentro de tudo, com luminosidade própria. O onipresente (vibhu) aproximou-se ludicamente da materialidade sutil, divina e dotada de qualidades, que o recebeu casualmente. Ele, ao vislumbrar a materialidade geratriz, iludiu-se imediatamente com as qualidades (guṇa), tendo sua sabedoria velada, passando a existir como as inúmeras formas de criaturas neste mundo. Dessa forma, o ser (pumān), desejando seu outro, atribui a si mesmo a qualidade de agente, que pertence à materialidade, enquanto decorrem as ações das qualidades. Por isso, ele, que é inativo, potente, perceptivo e auto-suficiente, dota-se da criação, restrição, dependência e objetividade. Entende-se a materialidade como o princípio no âmbito do agente, da causa e da ação; e entende-se o ser, que é diferente da materialidade, como o princípio no estado de apreciação, relativo ao prazer e à dor.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Encontro do dia 24 de julho de 2009 (cakra e mātṛkā)

Eis um texto tão simples quanto representativo da visão tântrica relativa à corporalidade humana. Simples em sua construção e objetividade, porém complexo nos pressupostos do ritual meditativo que preceitua. Dois conhecimentos fundamentais para o praticante de yoga estão presentes nessa prática: cakra e mātṛkā. Os dois, segundo o tantrismo, são interdependentes; cakra é ponto de conexão entre duas expressões diferentes da śakti, as quais costumamos chamar de micro e macro-cosmo. A śakti manifesta-se no macro como toda variedade de fenômenos pertencentes ao cosmo, nos quais o corpo humano está incluído como micro-categoria privilegiada. A mātṛkā é a śakti do ponto de vista da pulsação sonora, organizada e desdobrada segundo o conjunto dos fonemas presentes na língua sânscrita. Isto é, a mātṛkā, sendo sonoridade condensada, é o estágio sutil que antecede toda forma de manifestação material.

A prática preceituada pelo Mahānirvāṇatantra solicita que o adepto instaure nos círculos dos cakras, entendidos geometricamente como flores de lótus com um número variável de pétalas, as várias potências sonoras da mātṛkā que totalizam o conjunto pleno do cosmo. Com isso, realiza-se o que antes era apenas latência: o corpo manifesta-se como o cosmo. Sabe-se que a consciência divina habita o cosmo e, seguindo a prática, o adepto, identifica seu próprio corpo com a totalidade desse cosmo, fazendo com que sua consciência individual integre a consciência divina.

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Mahā-nirvāṇa-tantram

dhyātvaiva mātṛkāṁ devīṁ 
ṣaṭsu cakreṣu vinyaset |
hakṣau bhrūmadhyage padme
kaṇṭhe ca ṣoḍaśa svarān || 113

hṛdambuje kādiṭhāntān 
vinyasya kulasādhakaḥ |
ḍādiphāntān nābhideśe 
bādilāntāṁś ca liṅgake ||114

mūlādhare catuṣpatre
vādisāntān pravinyaset |
ityantarmanasā nyasya
mātṛkāṇān bahir nyaset ||115
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Tantra da Cessação Grandiosa

(...) Tendo-se meditado sobre a deusa mãezinha (mātṛkā), deve-se instaurá-la nos seis círculos (cakra). No lótus do espaço entre as sobrancelhas, instaura-se o “ha” e o kṣa”. Na garganta, as dezesseis vogais. Ao instaurar do “ka” ao “ṭha” no lótus do coração, o adepto do kula instala do “ḍa” ao “pha” na região do umbigo e do “ba” ao la” no genital. Nas quatro pétalas da sustentação da base, deve estabelecer do “va” ao “sa”. Depois de instalar no interior com a mente, deve-se realizar a instauração externa. (...)

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Nota: as sequências de sons obedecem a ordem alfabética da língua sânscrita. Na condução da prática, o yogue segue, dessa forma, os sons contidos no quadro abaixo:



quarta-feira, 15 de julho de 2009

Yogues e desafios

O vídeo dispensa apresentações...

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Encontro do dia 03 de julho de 2009 (Kuṇḍalinī e Suṣumṇā)

Um aspecto importante, para não dizer fundamental, do estudo do corpo na tradição do Yoga é a Kuṇḍalinī e, por extensão, a Suṣumṇā. A primeira remete à condensação potencializada da energia pulsante que cria e sustenta o cosmo. A segunda refere-se ao canal que o iogue deve criar para que essa potência se expresse na presença de seu próprio corpo.
Mais do que um exercício físico ou físico sutil, o assim chamado "despertar da Kuṇḍalinī" envolve um profundo domínio das práticas meditativas, que, em última instância, podem ser entendidas como atos que permitem, à maneira do ritualista e seu espaço ritual, gerar, no próprio espaço corporal, a manutenção da presença divina. Entenda-se por divina a potência chamada de śakti. A śakti é a Kuṇḍalinī. E a Kuṇḍalinī é a śakti. Em sentido amplo, toda forma de manifestação material é śakti, porém, sua expressão mais profunda e integral encontra-se no pulsar da Kuṇḍalinī, que pode ser vista, sentida e experimentada no próprio corpo do adepto.
O seguinte trecho do Haṭhayoga pode ajudar a aprofundar a compreensão do tema, além, é claro, de contextualizar o sentido e a função de algumas práticas presentes no Yoga.

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A Lamparina do Haṭhayoga (Cap. 3)

Da mesma forma que o rei das serpentes sustenta a Terra, com as montanhas e as florestas, a kuṇḍalī sustenta todos os sistemas do Yoga. Quando a kuṇḍalī dormente é despertada pela graça do mestre, todos os lótus e também os nós são rompidos. Então o caminho vazio torna-se a via régia do prāṇa, a mente torna-se incondicionada e acontece a superação do Tempo. Belíssima (suṣumnā), caminho vazio (śūnyapadavī), portal de Brahman (brahmarandha), grande via (mahāpatha), crematório (śmaśāna), benfaceja (śāmbhavī), caminho do meio (madhyamārga) são todos sinônimos. Por essa razão, a técnica da mudrā deve ser praticada com todo empenho para que a īśvarī, adormecida na porta de Brahman, seja despertada. Mahāmudrā, mahābandha, mahāvedha e khecarī, uḍḍīyāna, e mūlabandha, e também o bandha chamado jālandharā, viparītakaraṇī, vajrolī, e śakticālana são o grupo das dez mudrā, que abate o morrer e o envelhecer. Este é o ensinamento transmitido pelo nātha dos primórdios, almejado por todos os siddha, que proporciona as oito realizações e é de difícil acesso até para os deuses. Como uma caixa de jóias, deve ser guardado com zelo. É algo que não deve ser divulgado, assim como o deleite com uma mulher de família.

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Haṭhayogapradīpikā

saśailavanadhātrīṇāṃ yathādhāro'hināyakaḥ |
sarveṣāṃ yogatantrāṇāṃ tathādhāro hi kuṇḍalī ||1||
suptā guruprasādena yadā jāgarti kuṇḍalī |
tadā sarvāṇi padmāni bhidyante granthayo'pi ca ||2||
prāṇasya śūnyapadavī tadā rājapathāyate |
tadā cittaṃ nirālambaṃ tadā kālasya vañcanam ||3||
suṣumṇā śūnyapadavī brahmarandhraḥ mahāpathaḥ |
śmaśānaṃ śāmbhavī madhyamārgaś cety ekavācakāḥ ||4||
tasmāt sarvaprayatnena prabodhayitum īśvarīm |
brahmadvāramukhe suptāṃ mudrābhyāsaṃ samācaret ||5||
mahāmudrā mahābandho mahāvedhaś ca khecarī |
uḍḍīyānaṃ mūlabandhaś ca bandho jālandharābhidhaḥ ||6||
karaṇī viparītākhyā vajrolī śakticālanam |
idaṃ hi mudrādaśakaṃ jarāmaraṇanāśanam ||7||
ādināthoditaṃ divyam aṣṭaiśvaryapradāyakam |
vallabhaṃ sarvasiddhānāṃ durlabhaṃ marutām api ||8||
gopanīyaṃ prayatnena yathā ratnakaraṇḍakam |
kasyacin naiva vaktavyaṃ kulastrīsurataṃ yathā ||9||

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Encontro do dia 26 de junho de 2009 (Sūrya e Candra)

O par Sol e Lua é uma presença permanente na prática e nos conceitos do Haṭha-yoga. Para compreender as concepções relacionadas ao corpo, é fundamental perceber o papel empreendido por essas duas "entidades astrais", que estão presentes, ao mesmo tempo, no céu e na constiuição de cada indivíduo.
O estudo do trecho abaixo, presente na obra conhecida como Śivasaṁhitā,  auxilia na assimilação dessas idéias, além, é claro de apresentar núcleos simbólicos de extremo interesse para as práticas meditativas do Haṭha e do Tantra, de uma forma geral.
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Śivasaṁhitā ||
īśvara uvāca || (...)

bramāṇdasaṁjñake dehe yathādeśaṁ vyavasthitaḥ | meruśṛṅge sudhāraśmir dviraṣṭakalayā yutaḥ | vartate ’harniśaṁ so’pi sudhāṁ varṣatyadhomukhaḥ ||6|| tato’mṛtaṁ dvidhābhūtaṁ yāti sūkṣmaṁ yathā ca vai | iḍāmārgeṇa puṣṭyarthaṁ yāti mandākinī jalam ||7|| puṣṇāti sakalaṁ deham iḍāmargeṇa niścitam | eṣa pīyūṣaraśmir hi vāmapārśve vyavasthitaḥ ||8|| aparaḥ śuddhadugdhābho haṭhāt karṣati maṇḍalāt | madhyamārgeṇa sṛṣṭyarthaṁ merau saṁyāti candramāḥ ||9|| merumūle sthitaḥ sūryaḥ kalādvādaśasaṁyutaḥ | dakṣiṇe pathi raśmibhir vahaty ūrdhvaṁ prajāpatiḥ ||10|| pīyūṣaraśminiryāsaṁ dhātūś ca grasati dhrūvam | samīramaṇḍale sūryo bhramate sarvavigrahe ||11|| eṣā sūryaparāmūrtiḥ nirvāṇaṁ dakṣiṇe pathi | vahate lagnayogena sṛṣṭisaṁhārakārakaḥ ||12||
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A coleção de Śiva
O soberano disse: (...)

No corpo, que é conhecido como o “ovo de brahman”, aquela que tem raios de néctar (Lua), com todas suas dezesseis partes, está sobre o Meru. Voltada para baixo, verte seu néctar dia e noite.(6) De lá, o néctar da imortalidade, dividido em dois, segue sob forma sutil e, visando a nutrição, corre como as águas de Mandāka (Ganges) pelo caminho da Libação (iḍā). (7) Ela certamente nutre todo o corpo pelo caminho da Libação. O raio da nutrição está realmente localizado no lado esquerdo.(8) O outro, semelhante ao puro leite, flui desse orbe vigoroso. A Lua penetra no Meru, pelo caminho central, visando a criação.(9) O Sol está situado na base do Meru, com a medida de doze partes. Na trilha direita, o Senhor-das-criaturas conduz seus raios para cima. (10) Ele sempre consome os raios de nutrição e os tecidos do corpo. O Sol vagueia em todo o corpo na esfera do vento. (11) Essa outra forma do Sol, posicionada no nascente, traz, na trilha direita, a cessação (nirvāṇa). 



quinta-feira, 18 de junho de 2009

Encontro do dia 19 de junho de 2009 (O corpo e o Meru)

Dando continuidade ao estudo do sentido dado ao corpo no Haṭha-yoga, as traduções desta semana pretendem expor o que é o Meru. Meru é o nome de uma montanha. É ao mesmo tempo uma montanha no sentido geográfico, no sentido mítico e ainda o eixo do corpo humano. Muitas vezes associado à "coluna vertebral", no sentido mais concreto, o entendimento do Meru pode ser auxiliado pelo conceito de axis mundi, ou "eixo do mundo". 

Praticar o Haṭha-yoga, de acordo com os princípios mais profundos embutidos em sua visão do corpo e da corporalidade, é identificar-se com a totalidade do universo. E uma das formas de atingir esse resultado é alinhar o próprio eixo ao axis mundi.

Na seqüência, dois textos que auxiliam a compreender e a experimentar essa realidade.

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A coleção de Śiva


O soberano disse:


Neste corpo, existe um Meru ligado a sete ilhas. Há também os rios, os oceanos, os territórios e os guardiães dos territórios.(1) Há os inspirados, os sábios, assim como todas as constelações e planetas. E também as rotas sagradas, os santuários e os deuses dos santuários.((2) O Sol e a Lua, movendo-se como agentes da criação e da destruição. O espaço, o vento, também o fogo, a água e a terra.(3) O corpo possui todos os seres que existem nos três mundos. E as atividades ocorrem em toda parte, circundando o Meru.(4). Quem isto reconhece é sem dúvida alguma um yogin.

Antigüidades de Mārkaṇḍeya

Mārkaṇḍeya disse:

A Terra possui tamanho, por todos os lados, de cinqüenta milhões (de yojana), ó consagrado. Ouve o que relato sobre sua completa constituição.(4)
As ilhas por mim referidas têm a ilha Jambu no início e a Puṣkara ao final, ó afortunado, escuta agora o tamanho delas.(5) Uma ilha é o dobro da anterior: Jambu, Plakṣa, Śālmali, Kuśa, Krauñca, Śāka e a ilha Puṣkara.(6) Elas são envolvidas, por todos os lados, pelos oceanos de água salgada, caldo de cana, licor, manteiga clarificada, leite coalhado, leite e água, cada um o dobro do outro.(7) Explicarei agora a constituição da ilha Jambu. Presta atenção em mim: sua forma é redonda, com cem mil yojana na largura e na extensão.(8) Himavāt, Hemakūṭa, Niṣadha, Meru, Nīla, Śveta e Śṛṅgī são as sete montanhas fronteiriças.

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Śivasaṁhitā ||

īśvara uvāca || dehe’smin vartate meruḥ saptadvīpasamanvitaḥ | saritaḥ sāgarās tatra kṣetrāṇi kṣetrapālakāḥ ||1|| ṛṣayo munayaḥ sarve nakṣatrāṇi grahās tathā | puṇyatīrthāṇi pīṭhāni vartante pīṭhadevatā ||2|| sṛṣṭisaṁhārakartārau bhramantau śaśibhāskarau | nabho vāyuś ca vahniś ca jalaṁ pṛthvī tathaiva ca ||3|| trailokye yāni bhūtāni tāni sarvāni dehataḥ | meruṁ saṁveṣṭya sarvatra vyavahāraḥ pravartate ||4|| jānāti yaḥ sarvam idaṁ sa yogī nātra saṁśayaḥ ||5||

Mārkaṇḍeyapurāṇam ||

mārkaṇḍeya uvāca || śatārdhakoṭivistārā pṛthivī kṛtsnaśo dvija | tasyāḥ saṁsthānam akhilaṁ kathayāmi śṛṇuṣva tat ||4|| ye te dvīpā mayā proktā jambudvīpādayo dvija | puṣkarāntā mahābhāga śṛṇveṣāṁ vistaraṁ punaḥ ||5|| dvīpāt tu dviguṇo dvīpo jambuḥ plakṣo ‘tha śālmaliḥ | kuśaḥ krauñcas tathā śākaḥ puṣkaradvīpa eva ca ||6|| lavaṇekṣusurāsarpirdadhi-kṣīrajalābdhibhiḥ | dviguṇair dviguṇair vṛddhyā sarvataḥ pariveṣṭhitāḥ ||7|| jambudvīpasya saṁsthānaṁ pravakṣye ‘haṁ nibodha me | lakṣam ekaṁ yojanānāṁ vṛtto vistāradairghyataḥ ||8|| himavān hemakūṭaś ca niṣadho merur eva ca | nīlaḥ śvetas tathā śṛṅgī sapta tadvarṣaparvatā ||9||

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Encontro do dia 12 de junho de 2009 (O corpo e os alentos)

As práticas do Haṭha-yoga partem de princípios bastante significativos com relação ao corpo humano. Cada sociedade produz significados distintos sobre os mesmos objetos. O corpo humano, apesar de ser o mesmo no Brasil, na Índia e em qualquer lugar do mundo, é valorizado de várias formas em cada uma dessas culturas, de acordo com as concepções particulares que cada civilização construiu. 

É importante para o adepto do yoga conhecer os meios pelos quais ele dará um significado especial ao seu corpo, internalizando, por meio da prática, um conjunto de elementos sensoriais, simbólicos e sutis que ajudarão em seu progresso. O trecho abaixo colabora com essa grandiosa busca.

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Śivasaṁhitā || 3.1-9


īśvara uvāca || hṛdy asti paṅkajaṁ divyaṁ divyaliṅgena bhūṣitam | kādiṭhāntākṣaropetaṁ dvādaśāraṁ vibhūṣitam ||1|| prāṇo vasati tatraiva vāsanābhir alaṁkṛtaḥ | anādikarmasaṁśliṣṭaḥ prokto ’haṁkārasaṁyutaḥ ||2|| prāṇasya vṛttibhedena nāmāni vividhāni ca | vartante tāni sarvāṇi kathituṁ naiva śakyate ||3|| prāṇo ’pānaḥ samānaś codāno vyānaś ca pañcamaḥ | nāgaḥ kūrmaś ca kṛkāro devadatto dhanañjayaḥ ||4|| daśa nāmāni mukhyāni mayoktānīha śāstrake | kurvante te ’tra kāryāni preritāś ca svakarmabhiḥ ||5|| atrāpi vāyavaḥ pañca mukhyāḥ syur daśataḥ punaḥ | tatrāpi śreṣṭhakartārau prāṇāpānau mayoditau ||6|| hṛdi prāṇo gude ’pānaḥ samāno nābhimaṇḍale | udānaḥ kaṇṭhadeśe syād vyānaḥ sarvaśarīragaḥ ||7|| nāgādivāyavaḥ pañca kurvanti te ca vigrahe | udgāronmīlanaṁ kṣuttṛḍjṛmbhāṁ hikkāṁ ca pañcamīm ||8|| anena vidhinā yo vai brahmāṇḍaṁ vetti vigraham | sarvapāpavinirmuktaḥ sa vai yāti parāṁ gatim ||9||

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A coleção de Śiva, 3.1-9
O soberano disse:
No coração, há um lótus celestial adornado com um liṅga celestial, e embelezado com doze raios dotados das sílabas que vão de ka até ṭha. (1) Diz-se que o prāṇa está situado nele, está acompanhado pelas reminiscências, acompanhado pelas ações inatas e conectado ao senso de individualidade. (2) O prāṇa possui múltiplas denominações devido à diferença de suas atividades. Não é possível descrever todas as que existem. (3) Prāṇa, apāna, samāna, udāna e vyāna, que é a quinta. Nāga, kūrma, kṛkāra, devadatta e dhanañjaya. (4) Os dez principais nomes são os proferidos por mim neste tratado. Eles executam o ato devido em função de suas próprias ações. (5) Desses dez, cinco devem ser considerados os ventos (vāyu) principais. Eu digo que, dentre esses, o prāna e o apāṇa são os agentes superiores. (6) O prāṇa está no coração, o apāna no ânus, o samāna no círculo do umbigo, o udāna na região da garganta e o vyāna é o que percorre todo o corpo. (7) O nāga e os outros ventos, ao todo cinco, realizam, no corpo, o arroto, o piscar de olhos, a sede-e-fome, o bocejo e o soluço, que é o quinto. (8) Quem concebe o corpo como o ovo de Brahman, por meio dessa descrição, liberta-se de todas os males e alcança a esfera suprema. (9)


quinta-feira, 28 de maio de 2009

Encontro do dia 29 de maio de 2009 (A sílaba Oṁ na Amṛtabindūpaniṣad)

Nas Upaniṣad-s estão expostos muitos ensinamentos práticos que podem ser alcançados pelas vias da perseverança e da simplicidade. Essa simplicidade nem sempre se mostra no primeiro contato, no qual estranhamos a terminologia que ali está expressa e procuramos nos aproximar racionalmente de seus conceitos. Nesse caso, estamos, na verdade, nos distanciando do ensinamento proposto. Com perseverança, porém, podemos procurar em nossa própria constituição humana os temas tratados nessas obras e constataremos, por meio do exercício sincero da meditação, o quanto os conceitos nelas ensinados são válidos em nossa realidade existencial. Isso quer dizer que o contato não-racional não implica adesão cega ou confiança incondicional num sistema proposto pelos sábios de antigamente, mas uma postura de envolvimento que procura experimentar ao invés de julgar. Assim como a realidade vivenciada nos sonhos - que, não esqueçamos, faz parte do nosso próprio ser - não pode ser modelada segundo as receitas da lógica tradicional, muitas das experiências que nossa consciência tem o poder de proporcionar pertencem a uma outra esfera de acontecimentos, incomensuravelmente criativa e imprevisível. As obras sânscritas conhecidas como Upaniṣad exercem um papel estimulante nessa direção, atuando como um instrumento para o desenvolvimento de experiências dessa ordem, consistindo em escrituras iniciáticas que atuam como uma espécie de guia para os nossos percursos em meio às áreas inexploradas de nosso ser.
Recorreremos à Upaniṣad conhecida como Amṛta-bindu para explorarmos alguns dos mapas que podem nos orientar nessa jornada.
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Amṛtabindūpaniṣat ||


mano hi dvividhaṁ proktaṁ śuddhaṁ cāśuddham eva ca | aśuddhaṁ kāmasamkalpaṁ śuddhaṁ kāmavivarjitam ||1|| mana eva manuṣyāṇāṁ kāraṇaṁ bandhamokṣayoḥ | bandhāya viṣayāsaktaṁ muktyai nirviṣayaṁ smṛtam ||2|| yato nirviṣayasyāsya manaso muktir iṣyate | tasmān nirviṣayaṁ nityaṁ manaḥ kāryaṁ mumukṣuṇā ||3|| nirastaviṣayāsaṁgaṁ samniruddhaṁ mano hṛdi | yadā yāty unmanībhāvaṁ tadā tat paramaṁ padam ||4|| tāvad eva niroddhavyaṁ yāvaddhṛdi gataṁ kṣayam | etaj jñānaṁ ca mokṣaṁ ca ato 'nyo granthavistaraḥ ||5|| naiva cintyaṁ na cācintyam acintyaṁ cintyam eva ca | pakṣapātavinirmuktaṁ brahma sampadyate tadā ||6|| svareṇa saṁdhayed yogam asvaraṁ bhāvayet param | asvareṇa hi bhāvena bhāvo nābhāva iṣyate ||7|| tad eva niṣkalaṁ brahma nirvikalpaṁ niranjanam | tad brahmāham iti jñātvā brahma sampadyate dhruvam ||8||
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Iniciação na Semente da Eternidade

A mente, explicam, é biforme: ou é pura ou então é impura;
ditada por desejos é a impura; livre dos desejos é a pura. (01)
Ensinam que a mente é instrumento de prisão ou de libertação;
a submissa aos objetos aprisiona, a insubmissa liberta. (02)
Sendo a libertação favorecida pela mente insubmissa aos objetos,
insubmissa aos objetos deve ser a mente do aspirante à libertação. (03)
Isenta do jugo dos objetos, a mente é refreada no coração
e então atinge o estado não mental, que é a esfera suprema. (04)
Deve mesmo ser refreada de modo a ser dissipada no coração;
é isso a gnose e a libertação e todo o resto é noção livresca. (05)
Não é concebível nem inconcebível, é inconcebível e concebível;
o absoluto, então realizado, não é apreendido por parcializações. (06)
O método é principiar com o som e realizar o não-som a seguir,
pois o ser, não o não-ser, é obtido por meio do estado de não-som. (07)
O absoluto é indiviso, inabalado, inemotivo; “eu sou o absoluto”,
aquele que tiver ciência disso assimila o absoluto para sempre. (08)

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Encontro do dia 22 de maio de 2009 (dhāraṇā)

A dhāraṇā, palavra comumente traduzida como "concentração" mas que aqui traduzo como "atenção", é uma prática permanente em toda tradição do yoga, seja qual for a vertente. Pode e deve ser praticada fora dos contextos das aulas de yoga. Suas técnicas são muitas e variam na intensidade e duração, conforme o aprendizado e a experiência do adepto, mas o importante é que, por ser tão abrangente, consiste numa técnica acessível a qualquer pessoa. 

O texto abaixo contém o sūtra de Patañjali que apresenta a dhāraṇā, seguido do comentário de Vyāsa, seguido, por sua vez, pelo comentário de Vijñānabhikṣu. A partir dessa tríplice exposição do tema, feita por autores que não se encontraram por terem vivido séculos de distância uns dos outros, é possível estudarmos e adentrarmos no conceito e na prática da "atenção" - virtude sem a qual não existe progresso no yoga. 

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Vibhūtipādam

uktāni pañcabahiraṅgāṇi sādhānāni | dhāraṇā vaktavyā ||

deśabandhaś cittasya dhāraṇā ||1||

nābhicakre hṛdayapuṇḍarīke mūrdhni jyotiṣi nāsikāgre jihvāgre ity evam ādiṣu deśeṣu bāhye vā viṣaye cittasya vṛttimātreṇa bandha iti dhāraṇā ||

(...) deśabandhaś cittasya dhāraṇā | yatra deśe dhyeyaṁ cintanīyaṁ tatra dhyānadhāradeśaviṣaye cittasya sthāpanaṁ tadaikāgryaṁ dhāraṇety arthaḥ | tad etadbahyacaṣṭe – nābhīti | mūrdhni mūrdhasthe jyotiṣi | ādiśabdena gāruḍādyuktadeśāntarāṇi grahyāṇi | yathā gāruḍe – 

prāṇnābhyāṁ hṛdaye vā’tha tṛtīye ca tathorasi | 
kaṇṭhe mukhe nāsikā’gre netra bhrūmadhyamūrddhasu ||
kiṁcit tasmāt parasmiṁś ca dhāraṇā daśakīrttitāḥ |
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Livro do desenvolvimento

Foram explicadas as cinco práticas (que consistem) nas partes externas (do yoga). A atenção será descrita:

A atenção é a fixação da consciência em um meio. (1)

A atenção é a fixação da consciência, com o uso pleno de seus movimentos [vṛtti], no círculo [cakra] do umbigo, no lótus do coração, na luminosidade da cabeça, na ponta do nariz, na ponta da língua, entre outros meios, no âmbito externo.

(...) “A atenção é a fixação da consciência num meio”. A atenção é a permanência, com unidade de foco, da consciência sobre um meio de sustentação da meditação, no qual se medite e se faça consciente. Isto é, nos meio externos mencionados, como o umbigo. “Na cabeça” é na luminosidade situada na cabeça. Com a expressão “entre outros” [ādiṣu] afirma-se “nos demais meios” a serem apreendidos, conforme está dito em textos como o Garuḍa. Eis o Garuḍa (Purāṇa):

“De início, no umbigo e, depois, no coração,
em terceiro lugar, no peito.
Na garganta, na boca, na ponta do nariz, nos olhos,
no meio das sobrancelhas e na cabeça.

E em um lugar que está além dela.
A atenção é assim descrita como décupla.”

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Encontro do dia 15 de maio de 2009 (īśvara e praṇava oṁ)

O estudo desses dois sūtras de Patañjali propicia o aprimoramento de uma das práticas mais célebres do Yoga, que é a recitação de mantras. Nesse caso, a recitação específica do mantra conhecido como praṇava, que é a sílaba oṁ. Patañjali sugere a prática de recitação como forma de alcançar o supremo (īśvara), que, por sua vez, permite o yogin ser conduzido ao estado de consciência integrada (samādhi). Sobre a sugestão de Patañjali, Vyāsa explica a relação de inerência entre a sílaba oṁ e o supremo, com uma belíssima metáfora: "o som está para o supremo assim como a claridade está para a luz".
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Samādhipādam
tasya vācakaḥ praṇavaḥ ||27||

vācya īśvaraḥ praṇavasya | kim asya saṁketakṛtaṁ vācyavācakatvam atha pradīpaprakāśavad avasthitam iti ? sthito’sya vācyasya vācakena saha saṁbandhaḥ | (...)
tajjapas tadarthabhāvanam ||28||

praṇavasya japaḥ praṇavābhidheyasya ceśvarasya bhāvanam | tadasya yoginaḥ praṇavaṁ japataḥ praṇavārthaṁ ca bhāvayataś cittam ekāgraṁ saṁpadyate | tathā coktam |
svādhyāyād yogam āsīta yogāt svādhyāyam āsate |
svādhyāyayogasaṁpattyā paramātmā prakāśate | iti ||


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Livro da Integração

A designação dele (īśvara) é o praṇava (oṁ). (27)

O supremo (īśvara) é designado pelo praṇava. A relação entre o designado e a designação é convencional ou é inerente, como entre a luz e a claridade? A relação do designado com a designação é inerente.
[Deve-se realizar] a sua recitação e meditação em seu sentido. (28)
A recitação do praṇava e a meditação no īśvara, que é expresso pelo praṇava[devem ser realizadas]. Quando o yogin está recitando o praṇava e meditando no sentido do praṇava, sua mente se torna focalizada (ekāgra). Assim se diz:
Depois da recitação (svādhyāya), que se faça meditação (yoga),
depois da meditação (yoga), que se faça a recitação (svādhyāya).
Por meio da plena realização da recitação e da meditação,
o eu supremo (paramātman) resplandecerá.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Encontro do dia 8 de maio de 2009 (samādhi)

Os sūtra-s escolhidos para este encontro são a definição "clássica" do yoga, que o descreve como um método e como um estado existencial. Estado existencial e não simplesmente estado de consciência ou estado mental. Busca-se, por meio da modificação do estado natural da mente, um objetivo que está além dela. Por isso, que yoga é método e condição.
Um dos conceitos mais fundamentais de todo o sistema filosófico e meta-psicológico do yoga está presente no sūtra 3 do Yoga-sūtra, em que ele fala do "observador" (draṣṭṛ). O draṣṭṛ equivale ao puruṣa, isto é, ao ser mais pleno, essencial e profundo de cada indivíduo humano. Propiciar a presença desse observador é uma atividade que pode ser realizada sob qualquer circunstância, não necessariamente pelos procedimentos que o senso comum entende como prática de yoga ou meditação. 
A partir desse conjunto de sūtra-s é possível extrair um conjunto de práticas meditativas e posturas internas.
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Samādhipādam 

atha yogānuśāsanam ||1||


atha iti ayam adhikārārthaḥ | yogānuśāsanaṁ śāstram adhikṛtaṁ veditavyam | yogaḥ samādhiḥ sa ca sārvabhaumaḥ cittasya dharmaḥ | kṣiptaṁ mūḍhaṁ vikṣiptam ekāgraṁ iti cittabhūmayaḥ | tatra vikṣipte cetasi vikṣipopasarjanībhūtaḥ samādhir na yogapakṣe vartate | yas tu ekāgre cetasi sadbhūtam arthaṁ pradyotayati, kṣiṇoti ca kleśān, karmabandhāni ślathayati, nirodham abhimukhaṁ karoti | sa samprajñāto yoga iti ākhyātate | sa ca vitarkānugato vicārānugata ānandānugato ‘smitānugata iti upariṣṭān nivedayiṣyāmaḥ | sarvavṛttinirodhe tu asamprajñātaḥ samādhiḥ ||1||

tasya lakṣaṇābhidhitsayā idaṁ sūtraṁ pravavṛte |

yogaś cittavṛttinirodhaḥ ||2||

(...)

tadā draṣṭuḥ svarūpe ‘vasthānam ||3||

(...)

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Livro da Integração

Eis o ensinamento do yoga. (1)

A palavra “eis” (atha) significa “início”. Deve-se entender que uma escritura com o ensinamento do yoga foi iniciada. Yoga é integração e esta é uma virtude da consciência em todos os seus estados. Agitado, letárgico, distraído, centrado são os estados da consciência. Na mente agitada, a integração, sendo um estado subordinado às agitações, não se desenvolve sobre o yoga. Denomina-se yoga da percepção plena a que ilumina um objeto segundo sua real natureza, enfraquece as perturbações, afrouxa a prisão do carma e dá início à “interrupção”. Junto a isso, deve-se saber que ele é acompanhado pela reflexão, pela discriminação, pelo gozo e pela presença de si. Mas com a interrupção de todos os movimentos, ocorre a integração além da percepção plena.

Com o objetivo de defini-lo (o yoga) segue o aforismo:


Yoga é a interrupção dos movimentos da consciência. (2)

(...)

 Com isso, o observador (obtém) estabilidade em sua própria forma. (3)

(...)


sábado, 25 de abril de 2009

Encontro do dia 24 de abril de 2009 (kleśa)

No segundo e no terceiro sūtra-s do Livro da Prática, vemos uma exposição do conceito de kleśa, comumente traduzido por "perturbação" ou "aflição". Estudamos esse dois sūtra-s, juntamente com o comentário de Vyāsa, para propor uma prática meditativa com o objetivo de auxiliar na percepção da atuação dos kleśa-s sobre a consciência. Quando se percebe a atuação dessas "perturbações", é possível experimentar um estado de presença ampliado, situado em uma esfera de consciência que está além da vivência mental cotidiana. A prática tende a resultar em uma diferenciação entre a consciência em seu estado amplo e a expressão da consciência limitada pelas perturbações descritas por Patañjali (avidyā, asmitā, rāga, dveṣa e abhiniveśa).

Abaixo seguem o texto sânscrito e a tradução estudados durante o encontro.

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Sādhanapādam

sa hi kriyāyogaḥ |

samādhibhāvanārthaḥ kleśatanūkaraṇārthaś ca ||2||

sa hy āsevyamānaḥ samādhiṁ bhāvayati kleśāṁś ca pratanūkaroti | pratanūkṛtān kleśān prasaṁkhyānāgninā dagdhabījakalpān aprasavadharmiṇaḥ kariṣyatīti, teṣāṁ tanūkaraṇāt punaḥ kleśair aparāmṛṣṭā sattvapuruṣānyatāmātrakhyatiḥ sūkṣmā prajñā samāptādhikārā pratiprasavāya kalpiṣyata iti ||

atha ke kleśāḥ kiyanto veti |

avidyā’smitārāgadveṣābhiniveśāḥ pañca kleśāḥ ||3||

kleśā iti pañca viparyayā ity arthaḥ | te syandamānā guṇādhikāraṁ draḍhayanti, pariṇāmam avasthāpayanti, kāryakāraṇasrota unnamayanti, parasparānugrahatantrī bhūtvā karmavipākaṁ cābhinirharantīti ||

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Livro da Prática

Esse é de fato o yoga da ação.

Objetivando realizar a integração e enfraquecer as perturbações. (2)

Quem realmente executa (o yoga da ação) faz a integração realizar-se e enfraquece as perturbações. Ele fará com que as perturbações sejam enfraquecidas, como sementes queimadas pelo fogo da meditação, e incapazes de germinar. Com o enfraquecimento delas, intocada pelas perturbações e com a percepção plena da diferença entre o ser supremo e o estado de lucidez, a consciência torna-se sutil, tem seu poder recuperado e prepara-se para o estado de cessação.

Dessa forma, o que são perturbações e quantas são?

Insciência, individualidade, desejo, aversão e subsistência 
são as cinco perturbações. (3)

Isso significa que as perturbações são cinco equívocos. Quando ocorrem, elas fixam o poder dos atributos (da matéria), sustentam os desdobramentos (dos fenômenos), aumentam o fluxo das causas e efeitos e, tornando-se uma rede de apoio mútuo, entregam-se aos produtos das ações.

sábado, 18 de abril de 2009

Encontro do dia 17 de abril de 2009 (kriyā-yoga)

A partir do primeiro sūtra do segundo capítulo do Yogasūtra de Patañjali (II a.C.) e do comentário conhecido como Yogabhāṣya, atribuído a Vyāsa (V d.C.), observamos os três componentes daquilo que Patañjali denomina como "kriyāyoga" (yoga da ação ou yoga expresso nas atitudes).

Dessa forma, estudamos os sentidos de tapas, svādhyāya e īśvarapraṇidhāna para a realização do yoga, considerando tanto as definições que o comentário de Vyāsa dá a essas práticas, como seu uso na vida cotidiana. 

Seguem abaixo o texto original e a tradução:

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Sādhanapādam 

uddiṣṭaḥ samāhitacittasya yogaḥ | 
kathaṁ vyutthitacitto’pi yogayuktaḥ syād ity etad ārabhyate –

tapaḥsvādhyāyeśvarapraṇidhānāni kriyāyogaḥ ||1||

nātapasvino yogaḥ sidhyati |anādikarmakleśavāsanācitrā pratyupasthitaviṣayajālā cāśuddhir nāntareṇa tapaḥ saṁbhedam āpadyata iti tapasa upādānam | 

tac ca cittaprasādanam abādhamānam anenāsevyam iti manyate ||

svādhyāyaḥ praṇavādipavitrāṇāṁ japo mokṣaśāstrādhyayanaṁ vā |
īśvarapraṇidhānaṁ sarvakriyāṇāṁ paramagurāv arpaṇaṁ tatphalasaṁnyāso vā ||

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Livro da Prática


Foi ensinado o yoga para aquele que tem a mente equilibrada.
“Como alguém que possui a mente instável pode realizar-se no yoga” é este (Livro) que começa:


Austeridade, estudo-próprio, entrega-ao-supremo são o yoga da ação (1).

O yoga não é realizado por quem não tem austeridade.
E a impureza – variada pelas atitudes, aflições e reminiscências sem origem, que traz uma rede de objetos envolventes – não é dissipada sem austeridade. Por isso, a presença da austeridade.
Concebe-se que esta, não agredindo a lucidez da consciência, deve ser exercida por ele (o adepto).

Estudo-próprio é a recitação dos purificadores como o Pranava, e similares, ou o estudo das escrituras de libertação.
Entrega-ao-supremo é a oferta de todas as ações ao maior preceptor ou o total abandono de seus frutos.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Sobre o Grupo de Estudos e Leitura

O grupo tem como objetivo o estudo de yoga a partir de obras compostas originalmente em língua sânscrita. São promovidos encontros semanais, em que lemos as escrituras de acordo com sua composição original e comentamos seus conceitos com o intuito de aprofundar a prática de yoga.  
A idéia do grupo de estudos surgiu a partir do desejo dos alunos do Curso de Formação de Professores da Escola de Yoga Carmen Perez de aprofundar os temas tratados durante as aulas e manter uma rotina semanal no estudo do yoga, com leituras de seus ensinamentos filosóficos, místicos, metafísicos e psicológicos. Devido a esse anseio se estender aos praticantes de yoga em geral, criamos um grupo aberto, voltado a alunos e a professores, independentemente da linha seguida.
 

Objetivos e métodos

O Grupo de Estudos, diferentemente de um curso, tem caráter permanente. Nossa proposta é praticar o yoga por meio dos ensinamentos que os antigos yogues nos deixaram, recorrendo às upaniṣad-s (Amṛtabindu, Kathā, Yogatattva...), aos tratados de yoga (Yoga-sūtra, Haṭhayogapradīpikā, Gheranda-saṁhitā, Shiva-samhitā...) e às escrituras tântricas (Vijñanabhairava, Shiva-sūtra, Malinīvijayottara-tantra, Tantrāloka ...), entre outras obras, para intensificar e aprofundar a presença do yoga na vida e, conseqüentemente, ampliar as percepções sobre o que é o yoga e os vários modos de praticá-lo. Dessa forma, o intuito de ler e estudar trechos e capítulos dessa infinidade de obras não é simplesmente apreender intelectualmente seus conteúdos, mas despertar, na própria consciência, os meios internos para alcançar os conhecimentos elevados, por meio da busca sincera, que envolve
práticas meditativas e reflexão

"Projetando a mente no centro da shakti 
e a shakti no centro da mente, 
ao ter a mente observada pela mente, 
há de concentrar-se sobre o estado supremo: 
vazio por dentro e vazio por fora:
como um jarro no céu 
e cheio por dentro e cheio por fora:
como um jarro no oceano." 
(Hathayogapradîpikâ)