segunda-feira, 22 de junho de 2009

Encontro do dia 26 de junho de 2009 (Sūrya e Candra)

O par Sol e Lua é uma presença permanente na prática e nos conceitos do Haṭha-yoga. Para compreender as concepções relacionadas ao corpo, é fundamental perceber o papel empreendido por essas duas "entidades astrais", que estão presentes, ao mesmo tempo, no céu e na constiuição de cada indivíduo.
O estudo do trecho abaixo, presente na obra conhecida como Śivasaṁhitā,  auxilia na assimilação dessas idéias, além, é claro de apresentar núcleos simbólicos de extremo interesse para as práticas meditativas do Haṭha e do Tantra, de uma forma geral.
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Śivasaṁhitā ||
īśvara uvāca || (...)

bramāṇdasaṁjñake dehe yathādeśaṁ vyavasthitaḥ | meruśṛṅge sudhāraśmir dviraṣṭakalayā yutaḥ | vartate ’harniśaṁ so’pi sudhāṁ varṣatyadhomukhaḥ ||6|| tato’mṛtaṁ dvidhābhūtaṁ yāti sūkṣmaṁ yathā ca vai | iḍāmārgeṇa puṣṭyarthaṁ yāti mandākinī jalam ||7|| puṣṇāti sakalaṁ deham iḍāmargeṇa niścitam | eṣa pīyūṣaraśmir hi vāmapārśve vyavasthitaḥ ||8|| aparaḥ śuddhadugdhābho haṭhāt karṣati maṇḍalāt | madhyamārgeṇa sṛṣṭyarthaṁ merau saṁyāti candramāḥ ||9|| merumūle sthitaḥ sūryaḥ kalādvādaśasaṁyutaḥ | dakṣiṇe pathi raśmibhir vahaty ūrdhvaṁ prajāpatiḥ ||10|| pīyūṣaraśminiryāsaṁ dhātūś ca grasati dhrūvam | samīramaṇḍale sūryo bhramate sarvavigrahe ||11|| eṣā sūryaparāmūrtiḥ nirvāṇaṁ dakṣiṇe pathi | vahate lagnayogena sṛṣṭisaṁhārakārakaḥ ||12||
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A coleção de Śiva
O soberano disse: (...)

No corpo, que é conhecido como o “ovo de brahman”, aquela que tem raios de néctar (Lua), com todas suas dezesseis partes, está sobre o Meru. Voltada para baixo, verte seu néctar dia e noite.(6) De lá, o néctar da imortalidade, dividido em dois, segue sob forma sutil e, visando a nutrição, corre como as águas de Mandāka (Ganges) pelo caminho da Libação (iḍā). (7) Ela certamente nutre todo o corpo pelo caminho da Libação. O raio da nutrição está realmente localizado no lado esquerdo.(8) O outro, semelhante ao puro leite, flui desse orbe vigoroso. A Lua penetra no Meru, pelo caminho central, visando a criação.(9) O Sol está situado na base do Meru, com a medida de doze partes. Na trilha direita, o Senhor-das-criaturas conduz seus raios para cima. (10) Ele sempre consome os raios de nutrição e os tecidos do corpo. O Sol vagueia em todo o corpo na esfera do vento. (11) Essa outra forma do Sol, posicionada no nascente, traz, na trilha direita, a cessação (nirvāṇa). 



quinta-feira, 18 de junho de 2009

Encontro do dia 19 de junho de 2009 (O corpo e o Meru)

Dando continuidade ao estudo do sentido dado ao corpo no Haṭha-yoga, as traduções desta semana pretendem expor o que é o Meru. Meru é o nome de uma montanha. É ao mesmo tempo uma montanha no sentido geográfico, no sentido mítico e ainda o eixo do corpo humano. Muitas vezes associado à "coluna vertebral", no sentido mais concreto, o entendimento do Meru pode ser auxiliado pelo conceito de axis mundi, ou "eixo do mundo". 

Praticar o Haṭha-yoga, de acordo com os princípios mais profundos embutidos em sua visão do corpo e da corporalidade, é identificar-se com a totalidade do universo. E uma das formas de atingir esse resultado é alinhar o próprio eixo ao axis mundi.

Na seqüência, dois textos que auxiliam a compreender e a experimentar essa realidade.

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A coleção de Śiva


O soberano disse:


Neste corpo, existe um Meru ligado a sete ilhas. Há também os rios, os oceanos, os territórios e os guardiães dos territórios.(1) Há os inspirados, os sábios, assim como todas as constelações e planetas. E também as rotas sagradas, os santuários e os deuses dos santuários.((2) O Sol e a Lua, movendo-se como agentes da criação e da destruição. O espaço, o vento, também o fogo, a água e a terra.(3) O corpo possui todos os seres que existem nos três mundos. E as atividades ocorrem em toda parte, circundando o Meru.(4). Quem isto reconhece é sem dúvida alguma um yogin.

Antigüidades de Mārkaṇḍeya

Mārkaṇḍeya disse:

A Terra possui tamanho, por todos os lados, de cinqüenta milhões (de yojana), ó consagrado. Ouve o que relato sobre sua completa constituição.(4)
As ilhas por mim referidas têm a ilha Jambu no início e a Puṣkara ao final, ó afortunado, escuta agora o tamanho delas.(5) Uma ilha é o dobro da anterior: Jambu, Plakṣa, Śālmali, Kuśa, Krauñca, Śāka e a ilha Puṣkara.(6) Elas são envolvidas, por todos os lados, pelos oceanos de água salgada, caldo de cana, licor, manteiga clarificada, leite coalhado, leite e água, cada um o dobro do outro.(7) Explicarei agora a constituição da ilha Jambu. Presta atenção em mim: sua forma é redonda, com cem mil yojana na largura e na extensão.(8) Himavāt, Hemakūṭa, Niṣadha, Meru, Nīla, Śveta e Śṛṅgī são as sete montanhas fronteiriças.

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Śivasaṁhitā ||

īśvara uvāca || dehe’smin vartate meruḥ saptadvīpasamanvitaḥ | saritaḥ sāgarās tatra kṣetrāṇi kṣetrapālakāḥ ||1|| ṛṣayo munayaḥ sarve nakṣatrāṇi grahās tathā | puṇyatīrthāṇi pīṭhāni vartante pīṭhadevatā ||2|| sṛṣṭisaṁhārakartārau bhramantau śaśibhāskarau | nabho vāyuś ca vahniś ca jalaṁ pṛthvī tathaiva ca ||3|| trailokye yāni bhūtāni tāni sarvāni dehataḥ | meruṁ saṁveṣṭya sarvatra vyavahāraḥ pravartate ||4|| jānāti yaḥ sarvam idaṁ sa yogī nātra saṁśayaḥ ||5||

Mārkaṇḍeyapurāṇam ||

mārkaṇḍeya uvāca || śatārdhakoṭivistārā pṛthivī kṛtsnaśo dvija | tasyāḥ saṁsthānam akhilaṁ kathayāmi śṛṇuṣva tat ||4|| ye te dvīpā mayā proktā jambudvīpādayo dvija | puṣkarāntā mahābhāga śṛṇveṣāṁ vistaraṁ punaḥ ||5|| dvīpāt tu dviguṇo dvīpo jambuḥ plakṣo ‘tha śālmaliḥ | kuśaḥ krauñcas tathā śākaḥ puṣkaradvīpa eva ca ||6|| lavaṇekṣusurāsarpirdadhi-kṣīrajalābdhibhiḥ | dviguṇair dviguṇair vṛddhyā sarvataḥ pariveṣṭhitāḥ ||7|| jambudvīpasya saṁsthānaṁ pravakṣye ‘haṁ nibodha me | lakṣam ekaṁ yojanānāṁ vṛtto vistāradairghyataḥ ||8|| himavān hemakūṭaś ca niṣadho merur eva ca | nīlaḥ śvetas tathā śṛṅgī sapta tadvarṣaparvatā ||9||

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Encontro do dia 12 de junho de 2009 (O corpo e os alentos)

As práticas do Haṭha-yoga partem de princípios bastante significativos com relação ao corpo humano. Cada sociedade produz significados distintos sobre os mesmos objetos. O corpo humano, apesar de ser o mesmo no Brasil, na Índia e em qualquer lugar do mundo, é valorizado de várias formas em cada uma dessas culturas, de acordo com as concepções particulares que cada civilização construiu. 

É importante para o adepto do yoga conhecer os meios pelos quais ele dará um significado especial ao seu corpo, internalizando, por meio da prática, um conjunto de elementos sensoriais, simbólicos e sutis que ajudarão em seu progresso. O trecho abaixo colabora com essa grandiosa busca.

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Śivasaṁhitā || 3.1-9


īśvara uvāca || hṛdy asti paṅkajaṁ divyaṁ divyaliṅgena bhūṣitam | kādiṭhāntākṣaropetaṁ dvādaśāraṁ vibhūṣitam ||1|| prāṇo vasati tatraiva vāsanābhir alaṁkṛtaḥ | anādikarmasaṁśliṣṭaḥ prokto ’haṁkārasaṁyutaḥ ||2|| prāṇasya vṛttibhedena nāmāni vividhāni ca | vartante tāni sarvāṇi kathituṁ naiva śakyate ||3|| prāṇo ’pānaḥ samānaś codāno vyānaś ca pañcamaḥ | nāgaḥ kūrmaś ca kṛkāro devadatto dhanañjayaḥ ||4|| daśa nāmāni mukhyāni mayoktānīha śāstrake | kurvante te ’tra kāryāni preritāś ca svakarmabhiḥ ||5|| atrāpi vāyavaḥ pañca mukhyāḥ syur daśataḥ punaḥ | tatrāpi śreṣṭhakartārau prāṇāpānau mayoditau ||6|| hṛdi prāṇo gude ’pānaḥ samāno nābhimaṇḍale | udānaḥ kaṇṭhadeśe syād vyānaḥ sarvaśarīragaḥ ||7|| nāgādivāyavaḥ pañca kurvanti te ca vigrahe | udgāronmīlanaṁ kṣuttṛḍjṛmbhāṁ hikkāṁ ca pañcamīm ||8|| anena vidhinā yo vai brahmāṇḍaṁ vetti vigraham | sarvapāpavinirmuktaḥ sa vai yāti parāṁ gatim ||9||

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A coleção de Śiva, 3.1-9
O soberano disse:
No coração, há um lótus celestial adornado com um liṅga celestial, e embelezado com doze raios dotados das sílabas que vão de ka até ṭha. (1) Diz-se que o prāṇa está situado nele, está acompanhado pelas reminiscências, acompanhado pelas ações inatas e conectado ao senso de individualidade. (2) O prāṇa possui múltiplas denominações devido à diferença de suas atividades. Não é possível descrever todas as que existem. (3) Prāṇa, apāna, samāna, udāna e vyāna, que é a quinta. Nāga, kūrma, kṛkāra, devadatta e dhanañjaya. (4) Os dez principais nomes são os proferidos por mim neste tratado. Eles executam o ato devido em função de suas próprias ações. (5) Desses dez, cinco devem ser considerados os ventos (vāyu) principais. Eu digo que, dentre esses, o prāna e o apāṇa são os agentes superiores. (6) O prāṇa está no coração, o apāna no ânus, o samāna no círculo do umbigo, o udāna na região da garganta e o vyāna é o que percorre todo o corpo. (7) O nāga e os outros ventos, ao todo cinco, realizam, no corpo, o arroto, o piscar de olhos, a sede-e-fome, o bocejo e o soluço, que é o quinto. (8) Quem concebe o corpo como o ovo de Brahman, por meio dessa descrição, liberta-se de todas os males e alcança a esfera suprema. (9)