quarta-feira, 22 de julho de 2009

Encontro do dia 24 de julho de 2009 (cakra e mātṛkā)

Eis um texto tão simples quanto representativo da visão tântrica relativa à corporalidade humana. Simples em sua construção e objetividade, porém complexo nos pressupostos do ritual meditativo que preceitua. Dois conhecimentos fundamentais para o praticante de yoga estão presentes nessa prática: cakra e mātṛkā. Os dois, segundo o tantrismo, são interdependentes; cakra é ponto de conexão entre duas expressões diferentes da śakti, as quais costumamos chamar de micro e macro-cosmo. A śakti manifesta-se no macro como toda variedade de fenômenos pertencentes ao cosmo, nos quais o corpo humano está incluído como micro-categoria privilegiada. A mātṛkā é a śakti do ponto de vista da pulsação sonora, organizada e desdobrada segundo o conjunto dos fonemas presentes na língua sânscrita. Isto é, a mātṛkā, sendo sonoridade condensada, é o estágio sutil que antecede toda forma de manifestação material.

A prática preceituada pelo Mahānirvāṇatantra solicita que o adepto instaure nos círculos dos cakras, entendidos geometricamente como flores de lótus com um número variável de pétalas, as várias potências sonoras da mātṛkā que totalizam o conjunto pleno do cosmo. Com isso, realiza-se o que antes era apenas latência: o corpo manifesta-se como o cosmo. Sabe-se que a consciência divina habita o cosmo e, seguindo a prática, o adepto, identifica seu próprio corpo com a totalidade desse cosmo, fazendo com que sua consciência individual integre a consciência divina.

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Mahā-nirvāṇa-tantram

dhyātvaiva mātṛkāṁ devīṁ 
ṣaṭsu cakreṣu vinyaset |
hakṣau bhrūmadhyage padme
kaṇṭhe ca ṣoḍaśa svarān || 113

hṛdambuje kādiṭhāntān 
vinyasya kulasādhakaḥ |
ḍādiphāntān nābhideśe 
bādilāntāṁś ca liṅgake ||114

mūlādhare catuṣpatre
vādisāntān pravinyaset |
ityantarmanasā nyasya
mātṛkāṇān bahir nyaset ||115
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Tantra da Cessação Grandiosa

(...) Tendo-se meditado sobre a deusa mãezinha (mātṛkā), deve-se instaurá-la nos seis círculos (cakra). No lótus do espaço entre as sobrancelhas, instaura-se o “ha” e o kṣa”. Na garganta, as dezesseis vogais. Ao instaurar do “ka” ao “ṭha” no lótus do coração, o adepto do kula instala do “ḍa” ao “pha” na região do umbigo e do “ba” ao la” no genital. Nas quatro pétalas da sustentação da base, deve estabelecer do “va” ao “sa”. Depois de instalar no interior com a mente, deve-se realizar a instauração externa. (...)

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Nota: as sequências de sons obedecem a ordem alfabética da língua sânscrita. Na condução da prática, o yogue segue, dessa forma, os sons contidos no quadro abaixo:



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