quinta-feira, 2 de julho de 2009

Encontro do dia 03 de julho de 2009 (Kuṇḍalinī e Suṣumṇā)

Um aspecto importante, para não dizer fundamental, do estudo do corpo na tradição do Yoga é a Kuṇḍalinī e, por extensão, a Suṣumṇā. A primeira remete à condensação potencializada da energia pulsante que cria e sustenta o cosmo. A segunda refere-se ao canal que o iogue deve criar para que essa potência se expresse na presença de seu próprio corpo.
Mais do que um exercício físico ou físico sutil, o assim chamado "despertar da Kuṇḍalinī" envolve um profundo domínio das práticas meditativas, que, em última instância, podem ser entendidas como atos que permitem, à maneira do ritualista e seu espaço ritual, gerar, no próprio espaço corporal, a manutenção da presença divina. Entenda-se por divina a potência chamada de śakti. A śakti é a Kuṇḍalinī. E a Kuṇḍalinī é a śakti. Em sentido amplo, toda forma de manifestação material é śakti, porém, sua expressão mais profunda e integral encontra-se no pulsar da Kuṇḍalinī, que pode ser vista, sentida e experimentada no próprio corpo do adepto.
O seguinte trecho do Haṭhayoga pode ajudar a aprofundar a compreensão do tema, além, é claro, de contextualizar o sentido e a função de algumas práticas presentes no Yoga.

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A Lamparina do Haṭhayoga (Cap. 3)

Da mesma forma que o rei das serpentes sustenta a Terra, com as montanhas e as florestas, a kuṇḍalī sustenta todos os sistemas do Yoga. Quando a kuṇḍalī dormente é despertada pela graça do mestre, todos os lótus e também os nós são rompidos. Então o caminho vazio torna-se a via régia do prāṇa, a mente torna-se incondicionada e acontece a superação do Tempo. Belíssima (suṣumnā), caminho vazio (śūnyapadavī), portal de Brahman (brahmarandha), grande via (mahāpatha), crematório (śmaśāna), benfaceja (śāmbhavī), caminho do meio (madhyamārga) são todos sinônimos. Por essa razão, a técnica da mudrā deve ser praticada com todo empenho para que a īśvarī, adormecida na porta de Brahman, seja despertada. Mahāmudrā, mahābandha, mahāvedha e khecarī, uḍḍīyāna, e mūlabandha, e também o bandha chamado jālandharā, viparītakaraṇī, vajrolī, e śakticālana são o grupo das dez mudrā, que abate o morrer e o envelhecer. Este é o ensinamento transmitido pelo nātha dos primórdios, almejado por todos os siddha, que proporciona as oito realizações e é de difícil acesso até para os deuses. Como uma caixa de jóias, deve ser guardado com zelo. É algo que não deve ser divulgado, assim como o deleite com uma mulher de família.

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Haṭhayogapradīpikā

saśailavanadhātrīṇāṃ yathādhāro'hināyakaḥ |
sarveṣāṃ yogatantrāṇāṃ tathādhāro hi kuṇḍalī ||1||
suptā guruprasādena yadā jāgarti kuṇḍalī |
tadā sarvāṇi padmāni bhidyante granthayo'pi ca ||2||
prāṇasya śūnyapadavī tadā rājapathāyate |
tadā cittaṃ nirālambaṃ tadā kālasya vañcanam ||3||
suṣumṇā śūnyapadavī brahmarandhraḥ mahāpathaḥ |
śmaśānaṃ śāmbhavī madhyamārgaś cety ekavācakāḥ ||4||
tasmāt sarvaprayatnena prabodhayitum īśvarīm |
brahmadvāramukhe suptāṃ mudrābhyāsaṃ samācaret ||5||
mahāmudrā mahābandho mahāvedhaś ca khecarī |
uḍḍīyānaṃ mūlabandhaś ca bandho jālandharābhidhaḥ ||6||
karaṇī viparītākhyā vajrolī śakticālanam |
idaṃ hi mudrādaśakaṃ jarāmaraṇanāśanam ||7||
ādināthoditaṃ divyam aṣṭaiśvaryapradāyakam |
vallabhaṃ sarvasiddhānāṃ durlabhaṃ marutām api ||8||
gopanīyaṃ prayatnena yathā ratnakaraṇḍakam |
kasyacin naiva vaktavyaṃ kulastrīsurataṃ yathā ||9||

Um comentário:

  1. Muito bom! Ainda falta uma tradução brasileira séria, comentada e detalhada sobre o hatha yoga pradipika!

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